sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Destempero

Cheguei à conclusão de que as coisas perderam o tempero. É isso. O que antes era salgado, hoje é neutro, sem sal, aquilo que era doce, hoje é suave demais, diet. Pra gente não existia destempero, com a gente não tinha isso de tanto faz, meio termo, qualquer coisa. Eram extremos. Doce demais, quase enjoativo de tão amoroso, carinhoso, alegre. Salgadíssimo, amargo e forte, fazendo embrulhar o estômago. Sem você não há nada disso, não existe nada temperado, nada me chama a atenção e nada me importa. Tudo é tão sem sal que ficou indiferente. Ou então eu é quem perdi meu tempero, eu é que fiquei indiferente, parada no meio do caminho. Nem feliz nem triste, nem depressiva nem radiante, nem viva nem morta. Meu tempero era você, dá pra ver isso? Eu não sei mais quem eu sou, sem você. Não sei meu gosto, minha alma perdeu a cor, ficou turva, nublada.
Mas as vezes penso: não é porque não tem gosto, que não existe. Quer dizer, aquele arroz sem sal está ali, existe, sustenta e nutre, só... Não tem sal. Assim tem sido minha vida, ela existe, passa, coisas acontecem o tempo todo, só... Não tem você. É isso.

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