domingo, 4 de março de 2012

Onde deveria haver um coração não há nada mais que uma massa disforme. Só um órgão dilacerado e cauterizado. Há um imenso vazio. Só há saudades. Tenho a voz cansada de gritar seu nome no silêncio que ecoa dentro de mim. O grito se perdeu no som inaudível do meu choro que abafo no travesseiro. Só queria o ter por perto. E contigo chorar toda a tristeza de ser tão só.

Estas perdido para sempre. Nunca o consegui alcançar...nunca cheguei ao seu coração. E agora, não tenho mais o meu. Tudo me escorreu pelos dedos... como os grãos de areia da ampulheta do tempo que se esgota... Grão a grão... e eu mesma os ouço se esvaindo. Perder-se também é um caminho. E é muita coragem desistir do caminho depois de tanto tempo, isso porque ando, corro e me arrasto, mas você fica cada vez mais distante. Olho para os lados e é como se estivesse presa naqueles sonhos que você corre, corre e continua no mesmo lugar. Olho o mundo e agora reina o nada. Você reinava no meu pensamento, nas minhas palavras. Mas, palavras hoje deixam de ser necessárias. Dissipei-me em lágrimas de fuga sobre os meus sonhos. Sonharia contigo, se já não os habitasses.

Sem você as minhas noites são tão tristes. Os dias. O mundo não me interessa mais. O mundo é desesperadamente prático e não há lugar para dores sentimentais e corações despedaçados. Aliás, não tenho mais lugar em lugar algum. Eu só finjo que tenho. Irei fingir para o mundo. Ninguém suspeitará da dor por cima desse sorriso recortado de tempos passados e colado sobre esse rosto que agora só encerra a consternação. Só os olhos me denunciarão para os mais atentos. Só eles mostrarão o buraco na alma da parte de mim que me falta, era o lugar onde habitavas. Você não os perceberá... Será melhor assim. Não sobrou muita coisa. Só sobrou a música. Serei eternamente uma caixinha de música desacertada, tocando sempre a mesma melodia, arranhada pelo tempo, roubada pela vida, destroçada pelo amor.

[ Lia Araújo]

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