sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Eu costumava dormir abraçada com aquela tartaruga de pelúcia pra ficar lembrando do seu perfume, mesmo que fora da sua pele, ele fosse totalmente diferente. Quando você voltou de viagem, eu nem pensei em pedir pra você passar o perfume ali de novo, achei que não iria precisar dormir imaginando você ali tão cedo. Agora o seu perfume já passou, só senti o cheiro uma vez, depois que você se foi: no carro da sua mãe. Ela usa o mesmo perfume que você, provavelmente até o mesmo vidrinho, que ainda estava quase cheio. Não me lembro mais do cheiro na sua pele, há muito tempo já não acho seus fios de cabelo preto nos lugares mais estranhos, e acho que nem reconheceria sua risada se a ouvisse. Há tempos não consigo criar diálogos e ouvir sua voz mentalmente. Não consigo imaginar o que você faria em determinadas situações da minha vida, que tomou um caminho totalmente diferente do que eu esperava. Não sei dizer se tenho feito você feliz, e não sei se você está orgulhosa de mim. Tenho perdido você dentro de mim com certa frequência, e você nem sabe o quanto isso me assusta. Fico com medo de um dia esquecer até seu nome, ou sua data de aniversário. Tenho medo de passar um dia inteiro sem lembrar de você, e isso nem doer.
Tenho pavor de pensar que um dia você pode se tornar só uma lembrança. Você tem sido cada vez menos presente na minha vida, eu não consigo te encaixar nos lugares, nem falo de você mais (as pessoas ficam incomodadas, como se fosse minha obrigação já ter esquecido, por isso evito falar de você e até mesmo dizer seu nome) ou faço brincadeiras sobre você. Acho que vai chegar um dia em que você vai se tornar só uma memória distante, e eu nem vou saber dizer se você realmente existiu, ou se foi só um fruto da minha louca imaginação. Não vou saber dizer se todos aqueles diálogos realmente existiram ou se eu os inventei, não terei certeza se sua voz era mesmo bonita ou se eu desenhei-a assim, e talvez eu nem saiba se seu cheiro e sua risada e seu olhar eram tão marcantes assim. Talvez eu tenha criado tudo isso. Talvez você nem tenha existido mesmo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário